
Naquela noite ela chegou ao seu novo esconderijo,como sempre chega: cansada, com fome e com saudade.
Olhando para as pequenas panelas tomou coragem de preencher o prato.
A comida não é ruim, porém faltava um pouco de "não sei o que."
Prato preenchido, corpo jogado no chão, pouca força pra segurar o garfo,
e um pouco de não sei o que por cima da comida.
Quando comemos como se fosse a última refeição qualquer sabor é delicioso,
e os modos da menina não são tão educados, então a comida desce rápida e pesada,como se fosse uma gordinha em um toboagua,
mas sempre ocorre o risco de entalar no meio do caminho.
O "não sei o que" atrapalhou a divertida descida pelo toboagua
do seu esôfago, a boca secou, ardeu, sangrou e clamou por água.
E a respiração da menina cessou por uns instantes e os olhos lacrimejaram,
e agora ela sempre quer mais um pouco de "não sei o que",
quem sabe nas próximas tentativas ela consegue entrar em óbito.
(Nata Rangel)